O fato do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro ter sido criado em 1856, trinta e dois anos antes da abolição da escravatura, tem permitido uma série de histórias nas quais figuram os escravos a serviço do Corpo de Bombeiros.Mas, afinal, o que há de verdade sobre isso? É o que nos propomos esclarecer em poucas linhas para um assunto tão amplo. Para não estender mais, vamos aos fatos:
Quando o Corpo de Bombeiros foi criado, em 2 de julho de 1856, uma das seções de combate a incêndio era a da Casa de Correção. A seção da Casa de Correção era composta de "africanos livres". Mas quem eram esses africanos?
Corria os anos 1700, com o tráfico de escravos em pleno andamento, inclusive no Brasil, com mão de obra a baixo custo. Esse sistema permitia o comércio com preços muito abaixo dos concorrentes no mercado europeu. Sentindo-se prejudicados, os países pressionaram Portugal para que sua colônia, o Brasil, praticasse preços semelhantes aos dos europeus. Ao mesmo tempo, foi decretada uma lei que proibia o tráfico dos escravos.
Ficou decidido que competiria à Inglaterra, por possuir a melhor Armada, a fiscalização e a apreensão de navios negreiros em alto mar, ficando a costa marítima sob a responsabilidade de cada país. Para agradar aos europeus e continuar com a mão de obra a baixo custo, o Brasil colocou em toda a costa navios fundeados, com bandeira brasileira, mas sem tripulação. Todas as vezes que um navio da patrulha inglesa se aproximava da costa, via um navio brasileiro e, dali mesmo, voltava pra o patrulhamento em alto mar. Os navios brasileiros, sem tripulação, estavam ali, como diz o ditado popular "para inglês viver".
Sem a vigilância, alguns desses navios negreiros chegavam ao Brasil. Das centenas de embarcados, normalmente restavam poucas dezenas, a maioria doente. O restante morria durante a viagem com doenças causadas pela comida estragada ou mesmo de fome.
Os doentes mais graves eram lançados à própria sorte, uma vez que os comerciantes dos escravos não tinham como vendê-los e o custo de recuperação era alto. Outros, com mais saúde, saltavam dos navios e nadavam para terra, buscando o próprio destino.
Desses, tantos os doentes como os fugitivos, eram recolhidos pelo Governo Imperial e postos para trabalhar para com o "fruto do seu trabalho", custear a viagem de volta à África. Um desses locais de trabalho era a Casa de Correção, cujo portal ainda pode ser visto à direita do Complexo Penitenciário da Frei Caneca.
Dentre os serviços prestados, por esses africanos, destacavam-se a confecção de fardas e calçados para os soldados da Corte.
Foi naquele local e com aquele pessoal que foi criada a Seção de Bombeiros da Casa de Correção. Como vimos, não obstante as muitas histórias, as difíceis condições de trabalho dos africanos, o Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro nunca usou serviço escravo, mas sim de africanos livres, protegidos, graças à influência européia, pelas leis brasileiras.
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NILO GUERREIRO