NILO GUERREIRO

sexta-feira, 2 de março de 2012

Barcas: protesto barrado na roleta

Longas filas, atrasos, viagens em pé e até à deriva, falta de embarcações, estações superlotadas, reajuste tarifário de 60,71%. A lista de reclamações dos 106 mil passageiros diários da Barcas S/A é bem longa, mas a possibilidade de protestar contra o serviço, considerado cada vez mais ineficiente, ficou bem reduzida. Ontem, um forte aparato policial foi mobilizado, a pedido da empresa, para evitar tumultos nas manifestações contra o aumento do preço da passagem, previsto para amanhã. Não bastasse, a Justiça fixou uma multa de R$ 5 milhões contra o PSOL e um manifestante, caso os protestos resultassem em vandalismo — medida considerada pelo partido como uma intimidação.
A liminar foi concedida pelo juiz Mauro Nicolau Júnior, da 48 Vara Cível do Rio, a pedido da Barcas contra o PSOL e o professor de história Henrique Campos Monnerat, apontados como organizadores de um suposto quebra-quebra. O que se viu, porém, foi um ato pacífico, ontem de manhã, em Niterói, e à noite, no Rio, contra o aumento do custo da viagem Rio-Niterói de R$ 2,80 para R$ 3,10 (Bilhete Único) e R$ 4,50 (pagamento em dinheiro).
Na estação, os manifestantes encontraram à sua espera aproximadamente 50 policiais do Batalhão de Choque e do 12 BPM, além de uma lancha e um helicóptero do Grupamento Aeromarítimo da PM. Para evitar ações de vandalismo, a Barcas acionou a Secretaria estadual de Segurança, que determinou a abertura de um inquérito na 76 DP (Centro) e o envio da tropa para o local. Um grupo chegou a oferecer flores aos PMs, em alusão aos movimentos estudantis norte-americanos nos anos de 1960 e 1970.
No pedido à Justiça, a Barcas anexou nomes de usuários do Facebook que compartilharam um vídeo que anunciava a manifestação nas redes sociais. Nas imagens, um casal ameaçava levar álcool e fósforo para os protestos. Em nota, a Barcas informou uma queda de 15% de usuários entre Rio e Niterói e assinalou que "condena atos que incitem o vandalismo e manifestações violentas".
— Essa notícia de vandalismo é uma tentativa de se acirrar as coisas. Fui pego como bode expiatório porque sou professor da rede estadual. Isso é uma afronta ao estado democrático — reclama Henrique Campos Monnerat, que compartilhou o vídeo nas redes sociais, mas negou conhecer ou ter sido o autor das imagens na internet.
— Ele e outro rapaz divulgaram esse vídeo como se fosse uma incitação à incitação, mas não há qualquer ligação com partidos políticos — conta o delegado Alexandre Leite, que tenta identificar os autores das supostas ameaças.
A manifestação transcorreu de forma pacífica, mas houve momentos tensos, quando grupos pequenos ameaçaram, por duas vezes, promover o "pulaço", para entrar sem pagar na estação.  
O contínuo Raphael Leme, de 30 anos, foi detido após pular a roleta.
— Nada funciona e tudo aumenta — disse ele.
Os manifestantes começaram a chegar à estação às 7h, enquanto um helicóptero da PM sobrevoava a praça. O protesto, que durou quatro horas, foi marcado por palavras de ordem como "R$ 4,50 não vou pagar, eu não sou filho de marajá" e "Mãos ao alto, R$ 4,50 é um assalto".  
O protesto mais bem-humorado ficou por conta do estudante Victor Fortes, de 18 anos, que carregava uma placa que dizia: "R$ 4,50 só se tiver Roberto Carlos nas barcas".
— Não tem cabimento pagar R$ 9 por dia para ir e voltar do trabalho. Fora o ônibus para chegar até as estações. Se o salário mínimo aumentou 6%, como vão reajustar a tarifa em 60%? Que lógica é essa? — questionou Fortes, referindo-se ao aumento aprovado pela Agência Reguladora de Transportes Públicos, votado pela Assembleia Legislativa e referendado pelo governador Sérgio Cabral.
— É um protesto pacífico contra um reajuste abusivo, mas, pelo visto, querem que a gente não faça nada. Assusta-me ver a tropa de choque mobilizada, que é algo desnecessário — disse a musicista Ana Heuseler, de 25 anos.
Os manifestantes se reuniram por volta das 19h. Para o presidente do diretório do PSOL em Niterói, Paulo Eduardo Gomes, o partido não se afastará da causa.
— A Barcas queria usar a Justiça para nos intimidar. Vamos continuar criando constrangimentos com denúncias — garantiu ele.


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